No dia 30 de julho de 2025, completam-se 10 anos desde que o primeiro bloco da rede Ethereum foi minerado. Mas, como dissemos na publicação anterior, até chegar lá, foi preciso percorrer um caminho.
Esta é a segunda de três publicações que faremos para relembrar marcos importantes da história do Ethereum, por ocasião do seu décimo aniversário. Na primeira, falamos sobre o whitepaper, esse documento fundacional que apresentou os principais aspectos técnicos do projeto. Exploramos o contexto da sua redação e apresentação, mas também os conceitos centrais que Vitalik e a equipe expressaram nesse texto.
Se quiser ler esse artigo, ele está disponível aqui.
Como todos sabemos, ter uma ideia genial é muito importante, mas sem financiamento, dificilmente uma ideia vai para frente. Foi esse o desafio que a equipe do Ethereum enfrentou. Era necessário desenvolver dezenas de componentes para colocar a rede em funcionamento: redes de teste, clientes em diferentes linguagens, algoritmos de mineração, etc.
No início de 2014, Vitalik foi selecionado para a Thiel Fellowship, uma bolsa de 100 mil dólares que permitiu que ele se dedicasse em tempo integral à pesquisa e ao desenvolvimento das primeiras ideias do projeto. Pouco tempo depois, o empresário e investidor inicial de Bitcoin, Antony Di Iorio, realizou o financiamento inicial do projeto, tornando-se cofundador.
No entanto, o projeto era pensado em grande escala e, por isso, as necessidades financeiras eram ainda maiores. O Ethereum não seria “só mais um projeto”. Nas palavras do próprio Vitalik:
“Ethereum não é ‘só mais uma altcoin’, mas um novo caminho para as criptomoedas e, no fim das contas, para os protocolos peer-to-peer como um todo. Para isso, queremos investir recursos significativos na contratação de talentos de ponta para melhorar a segurança e escalabilidade da própria rede Ethereum, mas também apoiar um ecossistema Ethereum robusto com a esperança de trazer outros projetos de criptomoeda e peer-to-peer para o nosso universo.”
Esse comentário foi publicado em um artigo no blog do Ethereum em janeiro de 2014, poucos dias antes da apresentação do whitepaper na conferência de Bitcoin em Miami. O artigo foi assinado por Vitalik e intitulado Ethereum: Now Going Public.
Em seguida, o artigo tratava diretamente da questão financeira. Vitalik anunciava que, em breve, teria início uma pré-venda pública de $ETH para financiar o projeto. Essa pré-venda ficou conhecida historicamente como o “ICO”. sigla em inglês para Initial Coin Offering (Oferta Inicial de Moedas).
Sobre os planos da equipe para o protocolo com os recursos arrecadados, o próprio Vitalik explicou:
“Durante todo o período de financiamento, estaremos trabalhando intensamente no desenvolvimento. Em breve, lançaremos uma testnet centralizada, um servidor para o qual qualquer pessoa poderá enviar contratos e transações. Depois, passaremos para uma testnet descentralizada para testar as funcionalidades da rede e os algoritmos de mineração.
Também pretendemos organizar um concurso, parecido com os usados para definir os algoritmos do padrão de criptografia AES (em 2005) e do SHA3 (em 2013), no qual convidaremos pesquisadores de universidades do mundo todo a competir para desenvolver o melhor algoritmo de mineração possível: resistente a hardware especializado, difícil de centralizar e justo. Além disso, vamos explorar outras alternativas como proof of stake, proof of burn e proof of excellence.”
Embora Vitalik tenha anunciado que a pré-venda aconteceria entre fevereiro e março de 2014, ela ocorreu entre 22 de julho e 2 de setembro daquele ano.
Por meio do site fund.ethereum.org (atualmente fora do ar, não acesse sites parecidos, pois podem ser perigosos), era possível comprar ETH antes do lançamento oficial, utilizando bitcoin. A oferta inicial era de 2.000 ETH por 1 BTC. Com o passar dos dias, a taxa foi diminuindo até chegar a 1.000 ETH por 1 BTC.
Mais de 60 milhões de ETH foram vendidos, e a equipe fundadora arrecadou mais de 18 milhões de dólares em BTC.
No momento do lançamento da rede, em julho de 2015, o Ethereum contava com um fornecimento de 80 milhões de tokens “pré-minerados”. Cerca de 80% estavam distribuídos entre mais de 6.000 carteiras (não se sabe quantas cada participante usou). O restante foi dividido entre a recém-criada Fundação Ethereum (≈10%) e a equipe fundadora (≈10%).
O ICO do Ethereum foi marcante e inovador no universo das criptomoedas e da tecnologia blockchain. Enquanto o mundo financeiro tradicional já conhecia os IPOs (ofertas públicas de ações), esse formato de financiamento comunitário e programado foi algo completamente novo.
Depois do Ethereum, muitos projetos realizaram seus próprios ICOs, o que gerou o que muitos chamaram de uma bolha em 2017. Como toda bolha, ela estourou. Muitos projetos, alguns bem-intencionados, outros (talvez a maioria) nem tanto, prometiam inovações incríveis e benefícios futuros, faziam suas ofertas iniciais e depois desapareciam ou fracassavam de forma retumbante.
Apesar dessas experiências, o ICO do Ethereum continua sendo um caso paradigmático de uso estratégico desse mecanismo para construir infraestrutura digital pública.
Hoje em dia, comprar um token pode ser uma experiência extremamente simples, especialmente usando serviços centralizados como exchanges. Em 2014, era necessário um pouco mais de habilidade técnica.
Sobre isso, vale a pena conferir um artigo publicado no blog do Ethereum na época, cuja introdução dizia:
“Embora esperamos que a experiência de compra de ether seja tranquila para todos, reconhecemos que sempre haverá situações em que as coisas não saem como o esperado. Talvez sua conexão caia no meio da compra. Talvez você clique por engano no botão de voltar, em um link, ou simplesmente atualize a página durante o processo. Talvez esqueça de baixar sua carteira. Ou ache que esqueceu a senha e queira verificar. Em todos esses casos, infelizmente, a experiência será um pouco mais complexa do que simplesmente baixar um aplicativo web: será necessário executar alguns comandos no terminal usando um script em Python.”
O guia trazia instruções detalhadas para situações como:
Para cada um desses problemas, havia uma solução — desde que você tivesse tempo, atenção aos detalhes e disposição para usar o terminal.
Você pode ler o artigo completo aqui:
👉 https://blog.ethereum.org/2014/07/23/ether-purchase-troubleshooting
Como deu para ver, participar do ICO, embora contasse com o suporte ativo da equipe técnica e de comunicação do Ethereum, não era uma experiência para qualquer pessoa. Era necessário ter convicção, tempo e algum conhecimento técnico. Também era preciso estar disposto a correr o risco de confiar seus BTC a um contrato ainda em desenvolvimento, em troca de um token que representava mais uma visão do que uma certeza.
Na época do ICO do Ethereum, em julho de 2014, 1 bitcoin permitia comprar 2.000 ETH. Isso significa que cada ETH custava aproximadamente 0,0005 BTC, ou cerca de 30 centavos de dólar.
Na data de redação deste artigo (17 de julho de 2025), 1 ETH equivale a 0,0287 BTC, o que representa um aumento de quase 4.700% em termos de bitcoin. Em dólares, o salto é ainda mais impressionante: de US$ 0,30 no ICO para mais de US$ 3.400 hoje, o preço do ETH se multiplicou mais de 11.000 vezes.
Para quem participou da pré-venda, o retorno foi histórico: 11.090× em USD, 47× em BTC. Ou seja: quem investiu 1.000 dólares no ICO e manteve esses ETH até hoje, teria mais de 11 milhões de dólares.
Dez anos depois, esse marco continua sendo uma referência essencial sobre como financiar infraestrutura digital aberta sem depender de estruturas tradicionais. O ICO não foi apenas uma transação econômica, mas uma aposta coletiva por uma nova camada da internet: programável, descentralizada, comunitária.
Na ETH Kipu, revisitamos esses momentos não por nostalgia, mas para lembrar que, por trás de cada linha de código que hoje roda na rede, existiram decisões, contextos, aprendizados e riscos assumidos. O Ethereum foi construído passo a passo, com visão, colaboração e tempo.
Na próxima semana, vamos encerrar essa série com a história do bloco gênese, o lançamento definitivo da rede.
Seguimos conectando o presente com o futuro do Ethereum.
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